O linchamento de Zezé Polessa
Enviado por luisnassif, qui, 17/01/2013 - 11:27
Autor: Luis Nassif
Confesso não ter muita paciência para o chamado efeito-manada nas redes sociais. Por isso não tinha lido muita coisa sobre o episódio da atriz Zezé Polessa com o motorista que trabalhava para a Globo.
Li, agora, uma reportagem de O Dia sobre o tema. Entrevistaram a filha do motorista. Ele era cardiopata, sentira-se mal no dia fatídico, a ponto da filha pedir que não fosse para o trabalho.
Foi, pegou a atriz – que tinha compromisso de gravação – e levou-a a um endereço errado. Teria levado uma bronca. Deixou a atriz, piorou (pois já estava mal quando saiu de casa, a ponto de sua situação chamar a atenção da filha), foi para um hospital onde morreu.
“Luciana Lopes, de 30 anos, filha de Nelson, conversou ontem com a coluna. Segundo Luciana, Nelson saiu para trabalhar na segunda-feira de manhã contra a vontade dela. “Ele não estava se sentindo muito bem e eu pedi que ele ficasse em casa. Mas meu pai teimou. Disse que ia buscar a Zezé Polessa rapidinho e que por volta do meio-dia já estaria em casa. Só que ele não voltou”, revelou. Luciana contou ainda que o pai ligou pra ela avisando que estava passando mal”.
Criou-se o linchamento. A atriz foi acusada de assassina pelo mero fato de ter-se irritado com um motorista que errou o endereço.
Começa o jogo de exploração da catarse.
Pelo Google chego no Yahoo Notícias a um colunista educadíssimo (“algumas pessoas estranham o fato de eu cumprimentar absolutamente todo mundo quando entro em um ambiente fechado” pois foi educado “por minha saudosa mãezinha, a gloriosa dona Irene”), brilhantíssimo (entrou no “universo da televisão” graças a uma entrevista ao Jô (e remete o prezado leitor para três links da entrevista), modestíssimo, pois alvo de todos os olhares das “pessoas da TV” (diz que pessoas da TV “ainda entranham ao me ver cumprimentando e brincando com faxineiras”). Não fosse o episódio Zezé Polessa, como o mundo saberia de tantas virtudes escondidas?
Agora vem a notícia de que a recém-futura-famosíssima promotora de justiça Christiane Monnerat vai abrir investigação contra a atriz, acusando-a de atentar contra o Estatuto do Idoso. Se a atriz sabia que o motorista era cardiopata, poderá ser inidiciada por homicídio culposo, diz ela. Faltou dizer que, se a atriz furou os olhos do motorista, será indiciada por homicídio doloso. Se planejou o crime no dia anterior, por homicídio premeditado. E se não fez nada isso, é uma desmancha-prazer por impedir que as pessoas justas possam se promover ainda mais e aproveitar o curso de media training que provavelmente frequentou para se preparar para esses momentos de brilho.
Argumentos recorrentes
Quem quiser ser um linchador virtual (seguindo o mesmíssimo modelo dos linchamentos midiáticos) a fórmula é simples:
1. A busca de culpados.
Tragédias sem culpados não promovem a indignação. Sempre trate de encontrar um culpado. Pode ser o INSS, que não aposentou o motorista; a empresa para a qual ele trabalhava, que não acompanhou seu estado de saúde; a Globo, que contratou a empresa; o Lula que não deixou o INSS aposentar o motorista. Mas se for uma pessoa física, com CIC e RG, é melhor ainda.
2. A solidariedade com a vítima.
Na hora de buscar os culpados, sempre se coloque como defensor da vítima. Pode acusar quem quiser, até o Papa, desde que, se alguém reagir contra suas acusações responda que "daqui a pouco o motorista é que vai ser condenado". Jamais deixe passar a impressão de que você é um explorador de tragédias para benefício próprio: poder mostrar-se "generoso", "indignado", "solidário". Para efeito externo, você é um justiceiro solidário com a vítima.
3. Não se esqueça de mencionar o poder do acusado.
Essa malandragem é boa. Aqui entre nós, sabemos que uma atriz é uma atriz, uma estrela é uma estrela. A acusada é atriz, classe média, descartável. Mas, como trabalha na Globo, invoque essa condição na hora de rebater as defesas que possam ser feitas dela.
4. Descubra a preferência política da acusada.
Essa é ótima. Depois de descobrir mostre como ela foi influenciada por todos os valores divulgados por aqueles canalhas que fizeram sua cabeça política.
17 de janeiro de 2013
Prezado colunista,
Boa tarde!
Mais uma vez se acirra a questão ricos x pobres, crime e castigo.
Justamente por se tratar de uma figura pública é natural que a coisa toda ganhe visibilidade.
Entretanto, não podemos fugir do escopo da questão e tratar o problema no calor da emoção.
No meu humilde entendimento, o evento morte do referido senhor era uma coisa anunciada tendo em vista o seu estado clínico e o mal estar que já apresentava antes de sair para trabalhar. Este é um fato.
No que respeita ao evento morte em decorrência (ou não) da humilhação sofrida há que se avaliar os fatos à luz da razão.
O primeiro, o suposto "gatilho" que desencadeou a sua morte foi a o mal tratamento recebido pela atriz Zezé Polessa. Ocorre que que um aborrecimento desta natureza poderia ter acontecido com qualquer outra pessoa ao longo do dia. E sua morte ocorreria da mesma forma já que havia pré-disponibilidade para tal.
Então, se você me pergunta objetivamente se a atriz Zezé Polessa causou a morte (intencionalmente ou não) do Sr. Nelson eu respondo categoricamente: não. Neste caso específico não estão caracterizados nem a culpa nem o dolo.
Quanto ao segundo fato, ou seja, a falta de urbanidade e o mal tratamento destinado pela atriz à pessoa do Sr. Nelson a coisa muda de figura, tanto mais tratar-se de pessoa idosa, amparada pela força da Lei.
Neste caso, e somente neste caso, a atriz deve ser punida com todos os rigores do Estatuto do Idoso como assim deveria ser mesmo que não se tratasse de pessoa de avançada idade.
Urbanidade, cortesia, tolerância, respeito e educação são requisitos básicos para a convivência pacífica em sociedade. E, ao que parece, a atriz envolvida não os (re)conhece e é pessoa de difícil trato social.
Finalmente, causa-me estranheza a postura da promotora que, salvo qualquer outro juízo de valor, parece estar querendo ganhar notoriedade pessoal em cima do sofrimento alheio pelo fato de uma das partes envolvidas pertencer à classe artística.
Me pergunto se ela tem tido a mesma postura perante a tantos outros casos que ocorrem cotidianamente contra idosos, crianças, mulheres e adultos de outras classes sociais.
Seria interessante que a mídia publicasse os feitos da promotora em casos deste mesmo calibre para que pudéssemos avaliar se é uma postura profissional assumida ou é apenas uma oportunidade de ascensão social/profissional.
Abraços fraternos,
Virginia Meirim
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