23 de abril de 2010

Elis Regina - Como Nossos Pais

Gal Costa - London, London (Virada Cultural - 2008)

O crack devora os filhos de pai ausente

O crack devora os filhos de pai ausente

21/04/2010 - 15:09 | Enviado por: Migliaccio

Anteontem, no pequeno intervalo entre ligar a TV e o DVD, me deparei com um programa jornalístico da Record que enfocava a epidemia de crack no Brasil.

O programa em si foi meio maçante, porque a emissora quis mostrar pujança e gravou pequenas reportagens em quase todas as capitais do país. O resultado foi que muitas se mostraram repetitivas.

Mas três momentos me deixaram impressionados com a força dessa droga.

Um deles, eu nem quis ver, mudei de canal. Mostrou os bebês filhos de mães dependentes sofrendo a síndrome de abstinência ainda no berçário. Barra pesada demais.

O segundo momento foi a internação involuntária de um jovem, que foi amarrado por enfermeiros e levado dentro de um carro para uma clínica, ante os olhares desesperados da mãe, a quem ele ameaçava aos berros. Dentro do carro, transtornado e desfigurado, esquelético e monstruoso, o rapaz parecia endemoniado, falando que por nada deste mundo largaria as pedras e que quando saísse da clínica voltaria a fumá-las.

Pouco depois, o programa mostrou o mesmo jovem, após 21 dias internado, cinco quilos mais gordo, sereno, olhar de criança de volta à fisionomia. Custei a crer que fosse a mesma pessoa. Ao ver as imagens de sua internação num monitor, garoto também não se reconhecia.

_ Quanta arrogância! Nem parece que sou eu... _ comentou.

Aliás, um parêntese: como as pessoas se permitem ser filmadas nesses momentos, como abrem suas intimidades e a de seus parentes para a TV dessa forma... é um fenômeno do nosso tempo, da era dos reality shows e da falência da privacidade.

Outra cena incrível foi a de um outro adolescente implorando dinheiro à mãe e às tias. Dizia que era para comer, mas ninguém mais acreditava nele. A mãe, com uma cicatriz na testa, fruto da violência do rapaz, era um farrapo humano.

Lá pelas tantas, o adolescente reclamou, choroso, que nunca mais havia visto o pai.

Segundo estudos divulgados pelo programa, cerca de 90% dos viciados em crack são de família desestruturada e sofrem com a ausência do pai. Claro que não é a única causa, mas é um dado tão comum que merece reflexão.

Portanto, você aí, garanhão. É, você mesmo, que curte a fama de pegador, de terror da mulherada. Seja mais consciente com os filhos que está deixando pelo caminho. Tirou proveito, assuma o ônus. Já que você é tão gostosão, mostre que também tem responsabilidade com as pessoas que põe no mundo.

E as garotas que, no desespero, engravidam mesmo sabendo que o cara não vai assumir são cúmplices do abandono que virá.

Fazer um filho é uma delícia, mas criá-lo é um sacerdócio que exige muita renúncia e abnegação. Nos traz, no entanto, alguns dos momentos mais valiosos e mágicos desta vida.

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Putz, Marcelo, é pra chorar. Tanto pela realidade descrita quanto pelo seu recado bem mandado, muito bem mandado (!) para essa garotada irresponsável que curte sexo por meio de pulserinhas e acha a coisa mais fofa do mundo apostar com quantos se fica em uma balada. Deplorável.
A família é a célula da sociedade e quando ela adoece todo o corpo social sofre as consequências. Quanto mais doentes forem as famílias mais doente será a sociedade.
Na verdade, eu vejo duas situações. A primeira trata da reprodução irresponsável, do sexo pelo sexo, do carpe diem, do “meu negócio é dar e o meu é meter”. A partir daí, meu caro amigo, tudo o que vier vem mal.
A segunda situação trata da ausência dos pais, muito bem abordada por você, e da crise do
“i wanna be forever young “ onde ninguém mais quer descer do palco para deixar o filho brilhar. Dizem por aí que os 40 são os novos 20 e nessa onda perdeu-se a figura de autoridade dos pais. Quando os tempos eram melhores as filhas queriam ser como as mães e os filhos como os pais. Hoje, as mães disputam com as filhas os mesmos modelitos e os garotos tomam porres com os pais e azaram a mesma mulher nas boites. Aí fica difícil.
Que fique claro que não se pode generalizar. Há casos, provavelmente destas mulheres sofridas do programa (eu não assisti), que em algum momento a coisa saiu do controle porque, vamos combinar, é barra ter que trabalhar, manter a casa, cuidar dos filhos, tudo ao mesmo tempo. Pior ainda quando o safado reprodutor deixa a mulher e a prole na mão. E uma coisa é fato: essa garotada dá volta na gente. Tem que vigiar. Aliás... tem que orar e vigiar.
Enquanto não houver uma política pública séria, que dê suporte a essas famílias na educação, orientação e formação da personalidade dos nossos jovens e crianças, tudo tende a piorar. A iniciação nas drogas se dá cada vez mais cedo, todo o mundo sabe disto. As escolas precisam trabalhar junto com as famílias. Não basta apenas informar. Tem que formar, educar, pegar no pé. Lembra da caderneta de presença? Pois é. Ai de nós se chegássemos em casa com o famoso carimbo FALTOU para a mamãe assinar. Deus me livre. Nós tínhamos que nos explicar na escola, em casa e, pior, na escola em presença da mãe ou pai. Era assim que funcionava e ninguém ficava traumatizado.
O que as pessoas precisam entender é que o jovem quer limites por mais que pareça o contrário.
Abraços fraternos,
Virgínia Meirim

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Ah! acabei esquecendo: quanto a esta coisa das pessoas se deixarem filmar em situações extremas lembre-se, meu bom Marcelo, que privacidade, ou "expectativa de privacidade", ou invasão de privacidade são coisas da era "muderna", uma invenção das grandes metrópoles. Experimente viajar por pequenos povoados no interior, ou cidadezinhas bem pequenas, e vai perceber o quanto todo mundo sabe da vida de todo mundo nos mínimos detalhes. E não rola estresse.
Na urbe as pessoas estão perdendo visibilidade, cada um é só mais um. Para ganhar espaço e posição (e se sentir alguém) os indivíduos são levados a se unir em grupos ou tribos com as quais se identificam. A superexposição pode ser também, como no caso do programa, um pedido de socorro. Um grito desesperado por ajuda, para dividir um fardo que já não se aguenta mais carregar. O desespero da família aliado aos interesses da mídia formam uma combição explosiva. Novos tempos, meu caro. Novos tempos.
Outra coisa que percebi foi que, quando você postou sobre a tragédia das chuvas e fez referência a Chico Xavier, logo surgiram inúmeros posts em uma acalorada discussão, com cada um puxando o cobertor para o seu pé. Não estou vendo a mesma empolgação sobre este assunto do crack, tão importante quanto, talvez até mais grave que a cizânia que você deu start. Porque será que as pessoas não se manifestam com a mesma veemência? Ora, ora. O crack, o alcoolismo, enfim, a dependência química em todas as suas formas são patologias sociais (além do quadro clínico) que exigem uma ação de cada indivíduo. Cabe a cada um de nós cair de cara em busca de soluções para o problema.
A família é uma Instituição e como tal tem que ser respeitada, levada a sério. Que tal começar por aí?
Abraços fraternos
Virgínia Meirim

O crack devora os filhos de pai ausente

Publicado em 23 de abril de 2010 no Blog RioAcima por Marcelo Migliaccio no JBonline


O crack devora os filhos de pai ausente


21/04/2010 - 15:09 | Enviado por: Migliaccio

Anteontem, no pequeno intervalo entre ligar a TV e o DVD, me deparei com um programa jornalístico da Record que enfocava a epidemia de crack no Brasil.

O programa em si foi meio maçante, porque a emissora quis mostrar pujança e gravou pequenas reportagens em quase todas as capitais do país. O resultado foi que muitas se mostraram repetitivas.

Mas três momentos me deixaram impressionados com a força dessa droga.

Um deles, eu nem quis ver, mudei de canal. Mostrou os bebês filhos de mães dependentes sofrendo a síndrome de abstinência ainda no berçário. Barra pesada demais.

O segundo momento foi a internação involuntária de um jovem, que foi amarrado por enfermeiros e levado dentro de um carro para uma clínica, ante os olhares desesperados da mãe, a quem ele ameaçava aos berros. Dentro do carro, transtornado e desfigurado, esquelético e monstruoso, o rapaz parecia endemoniado, falando que por nada deste mundo largaria as pedras e que quando saísse da clínica voltaria a fumá-las.

Pouco depois, o programa mostrou o mesmo jovem, após 21 dias internado, cinco quilos mais gordo, sereno, olhar de criança de volta à fisionomia. Custei a crer que fosse a mesma pessoa. Ao ver as imagens de sua internação num monitor, garoto também não se reconhecia.

_ Quanta arrogância! Nem parece que sou eu... _ comentou.

Aliás, um parêntese: como as pessoas se permitem ser filmadas nesses momentos, como abrem suas intimidades e a de seus parentes para a TV dessa forma... é um fenômeno do nosso tempo, da era dos reality shows e da falência da privacidade.

Outra cena incrível foi a de um outro adolescente implorando dinheiro à mãe e às tias. Dizia que era para comer, mas ninguém mais acreditava nele. A mãe, com uma cicatriz na testa, fruto da violência do rapaz, era um farrapo humano.

Lá pelas tantas, o adolescente reclamou, choroso, que nunca mais havia visto o pai.

Segundo estudos divulgados pelo programa, cerca de 90% dos viciados em crack são de família desestruturada e sofrem com a ausência do pai. Claro que não é a única causa, mas é um dado tão comum que merece reflexão.

Portanto, você aí, garanhão. É, você mesmo, que curte a fama de pegador, de terror da mulherada. Seja mais consciente com os filhos que está deixando pelo caminho. Tirou proveito, assuma o ônus. Já que você é tão gostosão, mostre que também tem responsabilidade com as pessoas que põe no mundo.

E as garotas que, no desespero, engravidam mesmo sabendo que o cara não vai assumir são cúmplices do abandono que virá.

Fazer um filho é uma delícia, mas criá-lo é um sacerdócio que exige muita renúncia e abnegação. Nos traz, no entanto, alguns dos momentos mais valiosos e mágicos desta vida.

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Putz, Marcelo, é pra chorar. Tanto pela realidade descrita quanto pelo seu recado bem mandado, muito bem mandado (!) para essa garotada irresponsável que curte sexo por meio de pulserinhas e acha a coisa mais fofa do mundo apostar com quantos se fica em uma balada. Deplorável.
A família é a célula da sociedade e quando ela adoece todo o corpo social sofre as consequências. Quanto mais doentes forem as famílias mais doente será a sociedade.
Na verdade, eu vejo duas situações. A primeira trata da reprodução irresponsável, do sexo pelo sexo, do carpe diem, do “meu negócio é dar e o meu é meter”. A partir daí, meu caro amigo, tudo o que vier vem mal.
A segunda situação trata da ausência dos pais, muito bem abordada por você, e da crise do
“i wanna be forever young “ onde ninguém mais quer descer do palco para deixar o filho brilhar. Dizem por aí que os 40 são os novos 20 e nessa onda perdeu-se a figura de autoridade dos pais. Quando os tempos eram melhores as filhas queriam ser como as mães e os filhos como os pais. Hoje, as mães disputam com as filhas os mesmos modelitos e os garotos tomam porres com os pais e azaram a mesma mulher nas boites. Aí fica difícil.
Que fique claro que não se pode generalizar. Há casos, provavelmente destas mulheres sofridas do programa (eu não assisti), que em algum momento a coisa saiu do controle porque, vamos combinar, é barra ter que trabalhar, manter a casa, cuidar dos filhos, tudo ao mesmo tempo. Pior ainda quando o safado reprodutor deixa a mulher e a prole na mão. E uma coisa é fato: essa garotada dá volta na gente. Tem que vigiar. Aliás... tem que orar e vigiar.
Enquanto não houver uma política pública séria, que dê suporte a essas famílias na educação, orientação e formação da personalidade dos nossos jovens e crianças, tudo tende a piorar. A iniciação nas drogas se dá cada vez mais cedo, todo o mundo sabe disto. As escolas precisam trabalhar junto com as famílias. Não basta apenas informar. Tem que formar, educar, pegar no pé. Lembra da caderneta de presença? Pois é. Ai de nós se chegássemos em casa com o famoso carimbo FALTOU para a mamãe assinar. Deus me livre. Nós tínhamos que nos explicar na escola, em casa e, pior, na escola em presença da mãe ou pai. Era assim que funcionava e ninguém ficava traumatizado.
O que as pessoas precisam entender é que o jovem quer limites por mais que pareça o contrário.
Abraços fraternos,
Virgínia Meirim