11 de junho de 2012

A CÓLERA

9. O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? – Entregai-vos à cólera.

Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar.
Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade.
Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, devera contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se pela dominar. O espírita, ao demais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. – Um Espírito protetor. (Bordéus, 1863.)
do livro O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO por Allan Kardec - capítulo IX - item 9



A CONQUISTA DA SERENIDADE

Um dia amanhece, glorioso, com a luz do sol atravessando as folhas. Silêncio que é quebrado pelo som dos passarinhos que acordam.
Murmúrio de regatos que cantam, perfume de relva molhada pelo orvalho da noite. Será isso serenidade?
A natureza oferece ao homem a oportunidade do silêncio externo, o exemplo da calma. Mas sozinha, ela, a natureza, será capaz de trazer a paz interna?
Muita gente diz assim: Vou sair da cidade, a fim de descansar. Quero esquecer barulho, poluição, trânsito.
Essa é uma paz artificial. Em geral, depois de alguns dias descansando, a pessoa volta para a cidade e aos ruídos da chamada civilização. E ainda exclama ao chegar: Que bom é voltar para o conforto da cidade.
E, nas semanas seguintes, enfrenta novamente os engarrafamentos de trânsito, o som constante das buzinas, a fuligem. A comida engolida às pressas e o estresse do cotidiano estão de volta.
Então vem a pergunta: Será que realmente a serenidade existe em nossa alma? Se ela estivesse mesmo em nós, não teríamos de deixar o local em que vivemos para encontrar a paz, não é mesmo?
A conquista da serenidade é gradativa. A natureza não dá saltos e as mudanças de hábitos arraigados ocorrem muito lentamente. Não se engane com isso.
Muita gente acredita que a simples decisão de modificar um padrão de comportamento é suficiente para que isso aconteça. Mas não é assim.
Um antigo provérbio chinês traduz muito bem essa dificuldade. Ele diz assim: “Um hábito inicia como uma teia de aranha e depois se torna um cabo de aço”. O mesmo acontece em nossa vida.
E a conquista da serenidade não escapa a essa lógica de criar novos hábitos, de reeducar-se. Sim, pois tornar-se pacificado é um exercício de auto-educação.
A pessoa educa-se constantemente. Treina a paciência, o silêncio da mente. É uma conquista diária, um processo que vai se instalando e se fortalecendo.
E por onde começar? O melhor é iniciar pelo dia a dia. Treinando com parentes, amigos, colegas de trabalho. Não se deixando perturbar pelas pequenas coisas do cotidiano.
Das pequenas coisas que irritam, a pessoa passa a adquirir mais força para superar problemas mais graves, situações mais complexas.
Aos poucos, suaviza-se o impacto que os outros exercem sobre nós. Acalma-se o coração, domina-se as emoções, tranqüiliza-se a mente.
O resultado é o melhor possível. Com o passar do tempo, a verdadeira paz se instala. E mesmo em meio aos ruídos de todo dia, o homem pacificado não se deixa perturbar.
É como um oásis em meio ao caos da vida moderna. Um espelho de água em meio a tempestades. Esse homem, em qualquer lugar que esteja, traz a serenidade dentro de si.
Experimente começar essa jornada hoje mesmo. Vai torná-lo muito mais feliz.
A serenidade resulta de uma vida metódica, postulada nas ações dinâmicas do bem e na austera disciplina da vontade.
Mantenhamos a serenidade e a nossa paz se espalhará entre todos.

DECÁLOGO DA SERENIDADE

Decálogo da Serenidade
1- Hoje apenas hoje.
Procurarei,viver pensando ,apena no hoje
Exclusivamente neste dia.
Sem querer resolver todos os problemas de minha vida de uma so vez.

2- Hoje apenas hoje
Procurarei ter o maximo cuidado ,na minha convivencia .
Coretes nas minhas maneiras .
A ninguem criticarei.Nem pretenderei melhorar a força .se não a mim mesmo.

3- Hoje apenas hoje.
Serei feliz ,na certeza de que fui criado para a felicidade.Não so no outro mundo.Mas ja neste.

4-Hoje apenas hoje .
Adaptar-me-ei as circustancias.
Sem pretender que sejam todas,as circunstancias
A se adaptarem aos meus desejos.

5-hoje apenas hoje.
Dedicarei 10 minutos do meu tempo .
A uma boa leitura.Recordando assim como o alimento e necessario para a vida do corpo.
A sim a boa leitura e necessaria ,para a vida da alma.

6-Hoje apenas hoje.
Farei uma boa ação.
E não direi a ninguem.

7- Hoje apenas hoje
Farei aumenos ,uma coisa que me custe fazer.E se me sentir ofendido nos meus sentimentos.
Procurarei que ninguem ,o saiba.

8- hoje apenas hoje.
Executarei ,um programa ,pormenorizado.
Talvez não o cumpra perfeitamente.
Mas ao menos escreve-lo-ei.E fugirei de dois males .
A preça e a indecisão.

9- Hoje apenas hoje.
A creditarei firmimente ,embora...
As circustancias ,mostrem o contrario.
Que a providencia de Deus se ocupa de mim.
Como se não exitice ,mais ninguem no mundo.

10- Hoje apenas hoje.
Não terei nenhum temor .De modo especial.Não terei medo de gozar o que e belo.
E de crer na bondade .

Pense nisso :
O homem do futuro ,que defende as conquistas das virtudes ,nos esforços do presente .
Descobre o imenso prazer de ser bom.


Texto de: Angelo Roncale.
Papa João XXIII

MALEDICÊNCIA

O Algodão do silêncio é um dos melhores recursos para asfixiar a maledicência e fazer calar acusações indébitas.
Espinho cruel a ferir indistintamente é a palavra de quem acusa; cáustico e corrosivo é o verbo na boca de quem relaciona defeitos; veneno perigoso é a expressão condenatória a vibrar nos lábios de quem malsina; lama pútrida, trescalando fétido, é a vibração sonora no aparelho vocal de quem censura; borralho escuro, ocultando a verdade, é a maledicência destrutiva.
A maledicência é cultura de inutilidade em solo apodrecido. Maldizer significa destruir.
A verdade é como claro sol. A maledicência é nuvem escura. No entanto, é invariável a vitória da luz sobre a treva.
O maledicente é atormentado que se debate nas lavas da própria inferioridade. Tem a visão tomada e tudo vê através das pesadas lentes que carrega.
A palavra malsinante nasce discreta, muitas vezes, para incendiar-se perigosa, logo mais, culminando na calúnia devastadora.
Não há desejo de ajudar quando se censura. Ninguém ajuda condenando.
Não há Socorro se, a pretexto de auxílio, se exibem as feridas alheias à indiferença de quem escuta.
Quanto possível, extingue esse monstro da paz alheia e da tua serenidade, que tenta dominar-te a vida.
Caridade é bênção sublime a desdobrar-se em silencioso socorro.
Volta as armas da tua oração e vigilância contra a praga da maledicência aparentemente ingênua, mas que destrói toda a região por onde prolifera.
Recusa a taça venenosa que a observação da impiedade coloca à tua frente.
Desculpa o erro dos outros.
E’ muito mais fácil informar-se erradamente do que atingir-se o fulcro da observação exata.
As aparências não expressam realidades.
A forma oculta o conteúdo. Ninguém pode julgar pelo exterior.
Quando vier a tentação de acusar e apontar defeitos, lembra-te das próprias necessidades e limitações e, fazendo todo o bem possível ao teu alcance, avança na firme resolução de amar, e despertarás, além das sombras da carne por onde segues, num roteiro abençoado onde os corações felizes e livres buscam a Vida Verdadeira.


do Livro “Lampadário Espírita” psicografado por Divaldo P. Franco, ditado por Joana de Angelis


ONDE FICA O CÉU E O INFERNO?

Durante muito tempo nós acreditamos naquilo que foi ensinado por nossos avôs, pais, na igreja, escola,etc… Que o céu… É um lugar maravilhoso, repleto de anjos e alegrias celestes, onde ficaríamos sentado no lado direito de Deus e que só iriam para lá depois da morte, quem tivesse sido bonzinho aqui na terra, já… O inferno, é um lugar horrível, cercado pelo diabo, que tem chifres e usa um tridente e por seus acompanhantes, onde todos aqueles que não foram bons queimariam no fogo eterno e que lá teria muito pranto e ranger de dentes
Hoje…. Com o esclarecimento que o Espiritismo trouxe a nós e a muitos sabemos que este lugares, tão almejado por uns e temidos por outros não são bem desta forma que nos foi ensinado por muito tempo.
O céu e o inferno é um estado de alma, uma questão de escolha pelo nosso livre arbítrio. Escolhemos viver no inferno aqui mesmo enquanto encarnados, quando: Nos aborrecemos por tudo e com todos, quando somos impacientes com nossos familiares, amigos, colegas de trabalho, quando temos crises de ciúmes do ser amado e ficamos a imaginar situações não existentes, ou dos filhos, ou objetos pessoais, nos ataques de cólera quando o ônibus não para onde queremos descer, ou o cobrador que nos dá o troco errado, ou alguém que pisa em nosso pé, quando cortam a nossa frente com o carro, ou com aquele que vem e fura a nossa fila no banco, apegos e ciúmes de objetos materiais, com as manias de doenças, pelos nosso vícios, baixo astral, variações de humor, com a maledicência que se espalha, pela aflição por não conseguir pagar as contas que fazemos já sabendo que não estavamos em condições de pagar no momento, pela inveja e ambição em querer ter o mesmo que o vizinho e conhecido, ou as tristezas sem motivos aparentes, depressão, temos ódio, desejo de vingança, mágoa, insatisfação consigo mesmo e com todos, quando reclamamos da vida,do sol, da chuva, do calor, do frio, da família, do trabalho, do salário, da rua, de amigos, conhecido e familiares.
São nestas escolhas que o inferno se instala dentro de nós e não temos paz, vemos sempre o lado negro da situação, nos tornando pessimista e permaneceremos neste estado até queremos mudar nosso padrão vibratório, fazermos uma avaliação nosso eu interior, do por que nos irritamos tanto com situações tão simples e corriqueiras do nosso dia a dia.
Escolhemos viver no céu quando estamos em paz conosco mesmo, com nossos familiares, amigos, conhecidos, quando praticamos o bem e tentamos cumprir a lei, quando perdoamos e temos fé e esperança acreditando que nossas dificuldades são passageiras, quando somos felizes e alegres e resignados nas horas de provação, quando vemos beleza em tudo e todos que nos cercam. Quando somos gratos a Deus por tudo que somos, que temos e também pelo que perdermos.
Onde está o céu e o inferno? Dentro de cada um de nós pela escolha que se faz

Escritora
Dothy Medeiros (Artigo)


A VOZ DO EVANGELHO

Esparramado na poltrona, João Lício pensava. Sem dúvida, fora feliz nos negócios. Enriquecera. Seu nome nos bancos indicava créditos de milhões. Que aceitava o Espiritismo, aceitava. Nenhuma Doutrina mais consoladora. Mas daí a espalhar o que havia juntado, isso é que não.
Meditava, assim, por haver recebido na véspera a solicitação de duzentos mil cruzeiros, da parte de amigos, para salvar grande obra periclitante. Para o montante do que possuía, a importância referida expressava migalha; entretanto, segundo refletia, já havia feito o possível. Dera grandes somas. Custeara a compra de vasto material. Cumprira com os preceitos da cooperação e da caridade. Sentia-se exonerado de quaisquer compromissos.
Ainda assim, ouvira dizer que o Evangelho respondia a consultas e resolveu experimentar. Levantou-se. Procurou o Novo Testamento e, após recolhê-lo, tornou a sentar-se. Abriu indiscriminadamente. E caiu-lhe aos olhos a sentença de Jesus, no versículo dezenove do capítulo seis, das anotações do Apóstolo Mateus:
- “Não ajunteis tesouros da Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam ...”
Como se houvesse recebido um choque, ponderou que o trecho não apresentava significação para ele, porque sempre dera muito a todas as instituições de caridade. Abriria outra vez. O Livro Divino, decerto, lhe reservava alguma consolação.
Repetiu o movimento e as páginas lhe mostraram o versículo dez do capítulo dezessete, dos apontamentos de Lucas, em que Jesus assim se expressa:
- “Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que deveríamos fazer.”
Surpreendeu-se mais ainda. O Evangelho como que o chamava a brios. Nervoso, inquieto, consultou pela terceira vez. E o Livro aberto exibiu o versículo vinte do capítulo doze, igualmente das lições de Lucas, em que a voz do Senhor solta esta frase:
- “Louco, esta noite pedirão tua alma... E o que tens ajuntado para quem será?”
João Lício fechou o volume com mãos trêmulas. Espantado, tangido no íntimo, encerrou a consulta. E, tomando o chapéu, saiu, procurando os amigos de modo a ver como poderia ajudar.

Do cap. 21 do livro A Vida Escreve, de Hilário Silva, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

ESTUDO DO LIVRO A GÊNESE de ALLAN KARDEC - capítulo I - CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRTTA - Itens 1 a 10

C A P Í T U L O I
Caráter da revelação espírita

1. Pode o Espiritismo ser considerado uma revelação? Neste caso, qual o seu caráter? Em que se funda a sua autenticidade? A quem e de que maneira foi ela feita? É a doutrina espírita uma revelação, no sentido teológico da palavra, ou por outra, é, no seu todo, o produto do ensino oculto vindo do Alto? É absoluta ou suscetível de modificações? Trazendo aos homens a verdade integral, a revelação não teria por efeito impedi-los de fazer uso das suas faculdades, pois que lhes pouparia o trabalho da investigação? Qual a autoridade do ensino dos Espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à Humanidade? Qual a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é diversa da do Cristo, já conhecida? Quais as verdades novas que eles nos trazem? Precisará o homem de uma revelação? E não poderá achar em si mesmo e em sua consciência tudo quanto é mister para se conduzir na vida? Tais as questões sobre que Importa nos fixemos.

2. Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa
literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada,
de qualquer idéia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.
Deste ponto de vista, todas as ciências que aos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode
dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.

3. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseqüência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. Não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve
ser considerada produto de uma concepção humana.

4. Qual o papel do professor diante dos seus discípulos, senão o de um revelador? O professor lhes ensina o que
eles não sabem, o que não teriam tempo, nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a Ciência é obra
coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que traz em, cada qual , o seu contingente de observações
aproveitáveis àqueles que vêm depois. O ensino é, portanto, na realidade, a revelação de certas verdades científicas
ou morais, físicas ou metafísicas, feitas por homens que as conhecem a outros que as ignoram e que, se assim não
fora, as teriam ignorado sempre.

5. Mas, o professor não ensina senão o que aprendeu: é um revelador de segunda ordem; o homem de gênio ensina o que descobriu por si mesmo: é o revelador primitivo; traz a luz que pouco a pouco se vulgariza. Que seria da Humanidade sem a revelação dos homens de gênio, que aparecem de tempos a tempos?
Mas, quem são esses homens de gênio? E, por que são homens de gênio? Donde vieram? Que é feito deles? Notemos que na sua maioria denotam, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos, que com pouco trabalho desenvolvem. Pertencem realmente à Humanidade, pois nascem, vivem e morrem como nós. Onde, porém, adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? Dir-se-á, com os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade? Neste caso, não teriam mais mérito que um legume maior e mais saboroso do que outro.
Dir-se-á, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma mais favorecida que a do comum dos homens? Suposição igualmente ilógica, pois que tacharia Deus de parcial. A única solução racional do problema está na
preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O homem de gênio é um Espírito que tem vivido mais tempo; que, por conseguinte, adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Encarnando, traz o
que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, era ele, pois, Espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros aproveitem do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui.
Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às
próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. Todos os povos tiveram homens de gênio, surgidos em diversas épocas, para dar-lhes impulso e tirá-los da inércia.

6. Desde que se admite a solicitude de Deus para com as suas criaturas, por que não se há de admitir que Espíritos
capazes, por sua energia e superioridade de conhecimento, de fazerem que a Humanidade avance, encarnem pela vontade de Deus, com o fim de ativarem o progresso em determinado sentido? Por que não admitir que eles recebam missões, como um embaixador as recebe do seu soberano? Tal o papel dos grandes gênios. Que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram e ainda ignorariam durante largos períodos, a fim de lhes dar um ponto de apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente? Esses gênios, que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo traço luminoso sobre a Humanidade, são missionários ou, se o quiserem, messias. O que de novo ensinam aos homens, quer na ordem física, quer na ordem filosófica, são revelações. Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas idéias atravessam os séculos.

7. No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem
não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe dão Deus ou
seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a
homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos
de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e
é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão.

8. Todas as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora longe estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores.
Apesar dos erros das suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso, que mais tarde haviam de desenvolver-se, ou se desenvolverão à luz brilhante do Cristianismo.
É, pois, injusto se lhes lance anátema em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças tão
diversas na forma, mas que repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental — Deus e a imortalidade da
alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe dos preconceitos.
Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestígio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas.
A tal propósito, chamamos particularmente a atenção para o capítulo XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo;
“Haverá falsos Cristos e falsos profetas”.

9. Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá dele prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus.
As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos.
É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.

10. Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer: “Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.”(Epíst. 1ª, 4:4.)
Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas e mentirosas. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de Deus. É assim que a lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem, enquanto que as outras leis moisaicas, fundamentalmente transitórias, muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política do legislador hebreu. Com o abrandarem-se os costumes do povo, essas leis por si mesmas caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou sempre de pé, como farol da Humanidade. O Cristo fez dele a base do seu edifício, abolindo as outras leis. Se estas fossem obra de Deus, seriam conservadas intactas. O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face ao mundo e nisso está a prova da sua missão divina. Uma obra puramente humana careceria de tal poder.