31 de janeiro de 2007

Dionísia

Dionísia é uma mulher preta que chegou aonde não consegue chegar a maioria das mulheres pretas deste país: tornou-se oficial superior (CF) das Forças Armadas e, conseqüentemente, galgou posição social que deriva desta ascensão funcional.
Ooopssss! Mulher preta?! Já estou ouvindo ativistas de plantão e ONGs anti-racismo querendo me fritar em praça pública e me processar.
Antes que se precipitem em discursos inflamados e, por certo até agressivos, faço questão de explicar que não há sequer um sinal de preconceito racial nesta minha assertiva, senão vejamos:
Se dos indivíduos brancos, por exemplo, dizemos que a cor da sua pele é “branca”, dos amarelos que a cor é “amarela” e a dos vermelhos é “vermelha” o que há de ofensivo em dizer que a cor da pele dos indivíduos pretos é “preta”? trata-se, basicamente, de uma condição biológica, étnica ou o nome que se queira dar.
Não há, portanto, qualquer intenção de manifestação racista em se chamar de “mulher preta” aquela que tem a pele preta, da mesma forma que não há quando nos referimos à “mulher branca” aquela que tem a pele branca. Nada mais simples, nada mais óbvio.
Mas quando uma mulher preta chega à posição social em que chegou Dionísia a história é outra. Isto porque ser mulher, preta e oficial superior das Forças Armadas em um país como o nosso, de herança escravocrata e machista, convenhamos, é muita coisa. E Dionísia percebeu isto.
Alguém duvida que as mulheres pretas deste país ainda caminham a passos lentos em direção a uma posição de respeito?
Por favor, deixem a hipocrisia e o coração sobre a mesa e usem apenas o cérebro. Olhem à sua volta, procurem em jornais, revistas, nas suas relações familiares, de vizinhança e de trabalho e enumerem quantas mulheres pretas conhecem que estejam em condições de igualdade com Dionísia. Quantas? Talvez nenhuma. E quando encontrarem, certamente, esta mulher será tratada mais como um fenômeno, uma aberração social do que como regra geral.
Neste Brasil de eufemismos, que chama o indivíduo preto de “escurinho”, como se ser preto fosse defeito ou desvio de caráter, a mulher preta está, na maioria das vezes, fadada a mostrar a bunda no carnaval ou trabalhar como empregada doméstica. Isto é uma verdade.
Mesmo quando a mulher preta alcança visibilidade, se afirma socialmente, “dá certo” e, por exemplo, torna-se governadora ou uma atleta reconhecida mundialmente, ainda assim, este fato será sempre visto e exaltado como exceção.
O único problema é como a mulher preta de boa posição social vai lidar com esta nova condição. Há aquelas que, a despeito de reconhecerem este nosso racismo maquiado, seguem em atitudes dignas, humildes sem subserviência, sendo exemplo de luta e sucesso para as suas companheiras de cor. São as mulheres pretas de bom caráter, coisa muito diferente e muito mais valiosa do que uma condição biológica ou de etnia.
Por isto volto agora a falar de Dionísia.
Ela correu atrás, estudou, subiu, deu certo porém, fez disto uma arma, uma ferramenta de vingança. Traqvestida de oficial competente traz em seus olhos um ressentimento inequívoco e se esforça em manter um porte muito mais de arrogância do que de altivez.
Faz lobby de si mesma, julga-se a oitava maravilha do mundo, a quintaessência...
Com seus gestos sempre contidos, o hábito de olhar as pessoas do alto, o nariz sempre bem empinado, tenta esconder uma mágoa óbvia, que nunca conseguiu superar: nasceu mulher e preta. Suas chances não eram muitas.
Teve necessidade de reverter esta situação. Não tem beleza física, não é simpática, não tem carisma, não tem bunda bonita e não quis ser empregada doméstica.
Não hesitou, portanto, em escolher o caminho do autoritarismo e da prepotência. Daí a sua opção pelas Forças Armadas, o lugar mais fácil de se fazer respeitada, ainda que pela força ou pelo poder. Em qualquer outra situação precisaria “ralar” muito e mostrar muito mais competência e talento do que realmente tem. Caso contrário não conseguiria projeção.
Deu a sua “volta por cima” e em sua trajetória funcional não poupa esforços em prejudicar, punir, aviltar e humilhar seus subordinados. Segue avaliando as pessoas segundo seus próprios critérios, não é fraterna, vive em eterno conflito para ser muito mais do que realmente é.
Se nesta nação as mulheres pretas fossem tratadas com mais respeito talvez Dionísia ainda tivesse salvação. Não casou, não teve filhos, sente uma vontade incontrolável de ter e exercer poder.
Seu problema é muito mais de formação moral do que de cor, mas ela não percebe isto. Justamente porque é uma questão moral.
Parafraseando o político russo Vladimir Jirinovski costumo dizer que Dionísia é a nossa Condoleezza Rice: “uma mulher muito cruel, que sente falta de atenção masculina. Se não arrumou nenhum homem até agora, não vai arrumar mais”.
Está onde queria estar mas não está sabendo aproveitar a oportunidade de se tornar uma pessoa melhor.

Falta-lhe coragem moral.

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Virgínia Meirim