Amontoam-se pesadas nuvens nos céus do Oriente e do Ocidente...
Quem impedirá a tempestade de suor e lágrimas?!...
Época de profundas aflições, dir-se-ia encontrarmos no século XX o fruto de sangue de dezesseis séculos de menosprezo à luz espiritual. Desde Constantino, o Cristianismo puro sofre a intromissão egoística de humanos interesses. Sempre a ofensiva das trevas contra a luz, as arremetidas do mal contra o bem.
É inegável que as instituições terrenas, não obstante constrangidas, revelam apreciáveis características de progresso. Regressando ao cenário atual, Aristóteles, o oráculo de filósofos e teólogos, não mais aplaudiria o cativeiro, declarando o escravo "propriedade viva"; Ignácio de Loiola, o santo, a pretexto de preservar a fé, não mobilizaria os tribunais da Inquisição.
A influência do Cristianismo determinou enormes transformações na curul administrativa. Entretanto, a dignificação da personalidade permanece apenas esboçada. Os aviltamentos do ódio campeiam em todos os climas. Arraiga-se a injustiça, com a máscara da legalidade, nas organizações dos países mais nobres. Há desvarios do poder em toda parte.
Baraço e cutelo, metamorfoseados nos mais estranhos aparelhos de tortura e de morte, são ainda recursos da toga.
A desconfiança e a discórdia regem as relações internacionais. Racismo tirânico perturba povos avançados. Conflitos ideológicos tremendos aguçam o raciocínio a soldo da ciência perversa. E, coroando o sombrio edifício, instalou-se a guerra entre os homens, à maneira de sorvedouro infernal.
O conceito de civilização flutua ao sabor dos grupos dominantes. Para alguns, repousa na economia ou na força; para outros, no direito exclusivista ou na liberdade de praticar o mal. E, do que podemos presumir, não está próxima a equação do inquietante problema.
Há sempre volumosos contingentes para ganhar a demanda, mas raros homens se preocupam em ganhar a harmonia.
O domicílio dos homens sofrerá terríveis brechas, até que a razão se equilibre nas diretrizes do mundo. A inteligência bestial combaterá ainda a sabedoria divina por longo tempo.
Não somos, pois, estranhos à tormenta de lágrimas, que cobrirá a fronte dos continentes em dolorosos quadros apocalípticos. Constituímos o fruto do que fomos, colhemos na pauta da semeadura.
Nisto não vai estima às predições de Cassandra, nem barateamento às profecias.
Buscando o Cristo nos templos exteriores e expulsando-O dos corações, fora temeridade esperá-lo por salvador gratuito à última hora.
Eis por que, à frente dos atritos formidandos dos dias que passam, apelamos para os seguidores do Evangelho, a fim de que se unam no culto à religião interior.
A consciência identificada com o Mestre é refúgio indispensável.
Se as doutrinas da força somente representam a decadência das nações, por libertarem o vandalismo, restituindo o homem à animalidade primária, é justo reconhecer que a democracia sem orientação cristã não pode conduzir-nos à concórdia desejada. Realmente, a Revolução Francesa, que inaugurou grandes movimentos libertários do Planeta, filiava-se, no fundo, às plataformas elevadas. Objetivava o término das administrações inconscientes, o fim da ociosidade consagrada, a extinção de prerrogativas delituosas, o reajustamento do governo e do sacerdócio, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Muitos dos patrocinadores da renovação acreditaram-se movidos pelo messianismo evangélico; no entanto, esqueceram-se de que Jesus advogara a liberdade de obedecer a Deus contra o mal, a igualdade dos deveres para que o mérito marcasse a responsabilidade, e a fraternidade verdadeira, dentro da qual há mais alegria em dar que em receber. Conspurcada nos fundamentos, a Revolução, desbordando nos instintos sanguinários, em breve degenerou-se nas lutas napoleônicas, estabelecendo, no mundo, as guerras odiosas de povo a povo.
Desde então, a Terra, em sua geografia política, é uma colmeia desesperada, que só a cristianização da democracia poderá reajustar. O angustioso enigma prende-se à ordem espiritual. Impraticável o erguimento do edifício sem bases. Impossível a organização de instituições respeitáveis sem sentimentos humanos dignificados.
O homem elevar-se-á com o Cristo para levantar a política até o plano do equilíbrio divino ou a política sem Cristo, seja qual for a bandeira a que se acolhe, precipitará o homem no caos. Este – o dilema da atualidade, em que a ventania da destruição assopra de novo...
E, não obstante edificados na certeza de que tudo coopera em benefício dos que amam a Deus, das claridades de além-túmulo, repetimos para os companheiros do Evangelho:
– Irmãos, entrelaçai os braços e uni corações, em torno do Caminho, da Verdade e da Vida! Tormentas de dor rondam os castelos da vaidade humana e gênios escuros do morticínio acercam-se das moradias sem alicerces.
Os monstros que devoraram as civilizações dos persas e dos assírios, dos egípcios e dos gregos, dos romanos e dos fenícios espreitam a grandeza fantasiosa dos vossos palácios de ilusão!... Os oráculos que prognosticaram queda e ruína em Persépolis e Babilônia, Tebas e Atenas, Roma e Cartago pronunciam angustiados vaticínios em vossas cidades poderosas...
Polvos mortíferos do ódio e da ambição desregrada multiplicam-se no oxigênio terrestre, predizendo misérias e desolação. Trazem a fome e a peste em novos aspectos, desorganizando-vos a vida e desintegrando-vos os celeiros...
Todos vivemos tempos dramáticos de prece, expectação e vigília... E, enquanto o aquilão da impiedade ruge destruidor, reunamo-nos na Jerusalém do íntimo santuário!... Sigamos o Senhor na via dolorosa, como quem sabe que Ele prossegue à nossa frente, desvelando-nos o caminho da ressurreição eterna.
Vejamo-Lo, heroico e divino, em seu apostolado de sublime renúncia, vergado à cruz de nossas fraquezas milenárias...
Ouçamo-Lo a dirigir-se às mulheres piedosas que se lhe ajoelhavam aos pés, na cidade santa: "Filhas de Jerusalém, não chorais por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos, porque virão dias em se dirá:
– Bem-aventurados os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram!
Clamareis então para os montes: – Caí sobre nós! E rogareis aos outeiros:
– Cobri-nos! Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se não fará ao lenho seco?"
Do livro Sentinelas da Luz, ditado por Emmanuele diversos Espíritos, por intermédio do médium Francisco Cândido Xavier.

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Virgínia Meirim